PATRIMÔNIO NATURAL, HISTÓRICO E CULTURAL.
Todas as pessoas eticamente comprometidas precisam lutar pela preservação do patrimônio natural, histórico e cultural do Estado do Amazonas, se opondo aos dilapidadores que são, em sua quase totalidade, pessoas cujo único objetivo é auferir as vantagens econômicas permitidas pela Zona Franca, sem qualquer interesse em conhecer e preservar nossa história natural e humana.
Alguns heróis da resistência, vez por outra encontram espaço na mídia para denunciar os atentados contra nosso patrimônio, constituído por bens materiais e imateriais que são os alicerces de nossas amazonidades e de nossa identidade cultural. Por todos os cantos de Manaus, onde as marcas de nossa natureza e de nossa história ainda resistem, é possível ver os ataques criminosos contra nossos bens naturais e culturais.
ATENTADO CONTRA A HISTÓRIA.
Um exemplo emblemático acontece na margem direita do rio Negro cujas terras altas não foram atingidas pela transgressão marinha de 5-6 mil anos atrás, permitindo a preservação de uma área com vestígios de uma antiga comunidade que estão sendo depredados. Um ex-governador mandou construir um acesso ao local a partir da estrada para Manacapuru e o ramal abriu um corte em um morrote expondo duas urnas indígenas.
Arqueólogos ligados às Universidades públicas locais, com a colaboração de cientistas nacionais e estrangeiros, vêm estudando aquele local, mas as dificuldades financeiras e humanas impostas à pesquisa científica são muito grandes. Como se não bastassem os obstáculos inerentes à investigação científica, algum tempo atrás um colaborador estrangeiro do projeto foi assassinado em um restaurante da margem da estrada e esse crime apagou uma parte importante do conhecimento sobre o nosso passado.
IGNORÂNCIA DESTRUIDORA.
Em uma de minhas visitas àquele local, iniciei uma conversa com os moradores da área e perguntei sobre as urnas e um deles contou que na semana anterior, trabalhando em um roçado ele e os amigos acharam uma “bem grandona”. Contou ainda que depois do trabalho, para relaxar, começaram a beber “umas e outras” o que levou à exaltação dos ânimos e a uma discussão que transformou a urna em pedaços arremessados entre os grupos rivais.
A DESTRUIÇÃO PELOS “CULTOS”.
Na semana passada os jornais noticiaram que um juiz “autorizou” a construção do Porto das Lages seguindo a trilha deixada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e pelo órgão ambiental do Estado (e o município não diz nada?), consolidando outro atentado contra um inestimável patrimônio natural - o Encontro das Águas – que constitui uma paisagem única e um cenário belíssimo que vai ser maculado por sabe lá quantos navios ancorados a espera de lugar para atracar, exatamente como acontece em todos os portos do mundo.
Não li o processo julgado pelo magistrado e pelos “big shots” do governo, mas sei que sua origem está enxovalhada por uma gorda doação monetária feita para uma fundação criada por um ex-governador, que transferiu para uma Ong as responsabilidades do poder público de garantir o desenvolvimento e a preservação de nossa natureza.
Ao contrário da depredação das urnas, esse outro atentado contra o patrimônio natural e cultural tem motivações econômicas que são ambientalmente nefastas. Os caboclos que destruíram a urna indígena o fizeram por absoluta ignorância, o assassino que matou o cientista deve andar solto por aí, os “big shots” do governo não têm autoridade nem coragem para priorizar o meio ambiente contrariando os interesses econômicos e políticos. No caso da decisão judicial, penso que a “sentença” foi dada por um juiz que não conhece (ou esqueceu!!) as bases teóricas que podem embasar uma decisão sob a perspectiva de uma hermenêutica socioambiental.
A ignorância e a violência até podem atenuar a gravidade dos crimes ambientais, mas os executivos e o magistrado que provavelmente já viajaram pela Europa, deveriam saber como é importante preservar o patrimônio público que deve estar sempre muito acima dos interesses privados.
Não entendo e não quero entender as leis e as atividades forenses; não conheço e não quero conhecer o processo administrativo e jurídico, mas estudei bastante o processo de evolução geológica, geográfica e humana do meu Estado, o que me dá o direito de considerar um atentado contra os antepassados e as gerações futuras, o desrespeito contra nosso patrimônio histórico e cultural.
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